Colombianos vendem artesanato, pegam carona e enfrentam ameaças para seguir o Atlético Nacional na Libertadores
Resumo
Torcedores do Atlético Nacional viajam sem recursos pelo Brasil para acompanhar a Libertadores, enfrentando desafios como venda de artesanato, caronas arriscadas e condições precárias, movidos pela paixão ao clube colombiano.
Qual loucura você faria pelo seu time de coração? O que quer que tenha pensado, dificilmente será maior do que a aventura vivida por um grupo de torcedores do Atlético Nacional, da Colômbia, durante a disputa da Copa Libertadores da América.
Sem dinheiro, vendendo pulseiras e balas, dormindo em postos de gasolina e rodoviárias, e, com sorte, pegando carona quando não conseguem dinheiro para a passagem, David Esteban, de 30 anos, Luiz Gonzalez, de 16, Jaider Gonzalez, de 22, Kevin Mariño, de 23, Neyer Urbina, de 25, Sebastian Leon, de 26, e José Tavera, de 27, são alguns dos Verdolagas que deixaram tudo de lado – pelo menos por alguns meses – para assistir aos jogos fora de casa do time de Medellín.
“Nós fazemos artesanato, vendemos bala de café colombiano, fazemos nossa correria. Gosto muito de viajar, trocar ideias com as pessoas, conhecer a cultura. Tudo isso está ligado ao futebol. Quando formos campeões da Libertadores, [voltaremos para a Colômbia]”, conta Esteban, o mais velho do grupo, que, vestindo uma camisa do Gama, do Distrito Federal, foi o escolhido para ser o porta-voz em conversa com o Terra.
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Ele, aliás, chegou primeiro ao Brasil, com o objetivo de assistir ao jogo da Colômbia contra a Seleção Brasileira no Estádio Mané Garrincha, em Brasília. Como os grupos da Libertadores haviam sido definidos dias antes, ele resolveu ficar no País para seguir o time do coração durante a competição. Para viver a viagem sem data para acabar, o rapaz deixou para trás o trabalho com instalação de elevadores e escadas rolantes e trancou a faculdade.
O encontro com os seis companheiros citados anteriormente aconteceu em Porto Alegre, onde o Atlético Nacional foi derrotado pelo Internacional na quinta, 10. Após o duelo contra o Colorado, eles iniciaram a rota com caronas e trechos de ônibus até São Paulo, uma espécie de ponto de parada no caminho para Salvador, que será palco do jogo dos colombianos contra o Bahia na próxima quinta, 24.
Para pisar na capital gaúcha, contudo, quatro deles passaram por uma dificuldade merecedora da conquista da Glória Eterna. Sem conseguir carona entre Corumbá e Miranda, ambas cidades no Mato Grosso do Sul, os colombianos precisaram caminhar muito e se segurar na traseira de caminhões, sem a permissão dos motoristas.
Em uma das tentativas, o caminhoneiro percebeu e sobrou até ameaça com facão para eles, que conseguiram escapar da ameaça e seguir viagem. Entre ‘caronas’ não autorizadas e caminhadas, o trajeto de 240 quilômetros foi completado em cerca de 12 horas.
“Os motoristas não arrumaram carona. Mas eles correram atrás da carreta e viajaram sem permissão. O motorista mandou descer e foi um pouco complicado, [foram ameaçados] com arma branca”, contam aos risos.
Agora, com mais tranquilidade em São Paulo, os Verdolagas estipulam que cerca de 200 torcedores colombianos devem chegar nos próximos dias. Na cidade, eles se dividem em pequenos grupos e vendem seus artesanatos e balas.
Embora ainda estejam tentando juntar R$ 400,00 a R$ 500,00 cada um para a passagem, o plano é ficar em São Paulo até o próximo sábado, quando pegam o ônibus para o próximo jogo da Libertadores. Quanto aos ingressos, recebem apoio interno da torcida para conseguir.
Como tudo na viagem vira uma aventura, até o banho fica difícil. Para atividades básicas de higiene, eles aproveitam de postos de gasolina ou de trocas de pulseiras em estabelecimentos.
Apesar de parecer – e ser – loucura, isso já virou algo comum entre alguns colombianos mais fanáticos. A primeira vez que Esteban vivenciou essa aventura foi em 2016, justamente quando o Atlético Nacional conquistou o bicampeonato continental. Na campanha, inclusive, ele viveu um dos grandes momentos de suas viagens ao calar o Estádio MorumBis com vitória sobre o São Paulo no jogo de ida da semifinal.
Desde então, o torcedor já conheceu todo o continente – com exceção das Guianas e Suriname – seguindo o clube do coração.
O perigo longe de casa
Apesar do sorriso no rosto e das carismáticas trocas de camisas do Atlético Nacional pelas de times brasileiros, o grupo tem que lidar com o medo de estar em território desconhecido. Embora o temor já não seja tão grande quanto nas primeiras vezes.
“Muitas vezes senti medo, mas viajamos com Deus e ficamos tranquilos. Há pessoas boas em nosso caminho e não dá para sentir medo. As primeiras vezes [mais medo], mas agora já sabemos como fazer para ficar mais tranquilo”, diz o torcedor.
Os sete Verdolagas são integrantes da Los del Sur de Bogotá, uma das torcidas organizadas do Atlético Nacional. Mesmo carregando tatuagens do time e da própria torcida que defendem, eles sabem que nem sempre podem vestir adereços em alusão ao grupo uniformizado.
Isso porque as torcidas organizadas do time verde e branco vivem clima de guerra, principalmente entre os Los del Sur e Los Piratas. No Beira-Rio, as duas uniformizadas tiveram que ficar em espaços diferentes no setor visitante.
O cuidado, porém, não foi o suficiente para impedir brigas após a partida. Alejandro Lopera Zuluaga e Víctor Manuel Velásquez Cartagena morreram na ocasião.
“Na Colômbia, ainda mais [perigoso o conflito]. Procuramos viajar com precaução. Muitas vezes não usando símbolos de identificação”, completa.
Na Libertadores, o Atlético Nacional ocupa a terceira colocação do Grupo F com três pontos, conquistados com vitória sobre o Nacional, do Uruguai. No momento, Internacional e Bahia dividem a liderança com quatro tentos cada.