Uma história de puro realismo fantástico no futebol peruano
O futebol como um todo, e o sul-americano em especial, sempre tem histórias dignas das melhores páginas do realismo fantástico. Várias delas poderiam ter sido escritas pelo colombiano Gabriel García Márquez, a chilena Isabel Allende ou pelo peruano Vargas Llosa, que seria mais apropriado ao fato que vamos contar, que conteceu no Peru.
Enfim, melhor ir a história curiosa, para dizer o mínimo, que o futebol nos deu e vem lá da província de Ayacucho, na Cordilheira dos Andes.
É dessa região o Sport Patibamba, do distrito de mesmo nome. Pois, na semana que passou, o Sport jogaria no distrito vizinho de Unión Progreso, contra o improvável Unión Berlín –homônimo do Die Eisernen da capital da Alemanha. A partida valia pela fase provincial da Copa Peru.
Só que, dias antes, caiu o mundo em Ayacucho. A chuva torrencial provocou o que é conhecido no Peru por huaico, palavra em quéchua – língua originária dos Incas. Em uma livre tradução significa desmoronamento ou deslizamento. E isso bem no caminho entre Patibamba e Unión Progreso.
A estrada mais curta entre as duas cidades, que tem um trecho junto a um precipício, virou uma cachoeira. O cenário impedia o Sport de seguir adiante. Não querendo levar o WO, a delegação do patibambense resolveu enfrentar o huaico, com uniformes, chuteiras e tudo mais às costas.
Com correntezas de água e lama escorrendo precipício abaixo, jogadores e comissão técnica encararam o risco. E passaram ilesos. Ufa! Atravessaram o huaico. Cheios de lodo e lama, é claro. Molhados até a alma, com certeza. Mas estavam do outro lado.